Imprensa
Uma vida sem violência é um direito das mulheres
As diferentes estratégias de luta efetivadas pelo movimento de mulheres nas últimas décadas possibilitaram dar visibilidade às formas de violência de gênero e doméstica contra as mulheres como uma questão pública a ser enfrentada no âmbito dos direitos humanos e da luta por uma nova sociedade sem opressão e exploração, mais plural, e, portanto mais justa. A expressão violência de gênero é utilizada para tipificar um padrão específico de violência, padrão este que visa à preservação secular do sistema patriarcal e sua lógica de subalternizar o gênero feminino, ancorado principalmente na desigualdade social, e nas formas de dominação muitas vezes fortalecidas nas relações pessoais e familiares que perpetuam o ciclo da violência contra a mulher.
Os indicadores de violência de gênero são estarrecedores e indignantes. A violência de gênero contra as mulheres é um fenômeno que atinge uma em cada três mulheres e meninas no mundo. No Brasil a cada 5 minutos uma mulher é agredida, em grande maioria pelo marido ou companheiro, outra pesquisa indica que o vírus da AIDS ou o Câncer de Mama assustam menos as mulheres brasileiras que a violência doméstica. Por isso é tão importante o debate o enfrentamento desta questão.
Foi pensando nisso que em 1991, 23 mulheres de diferentes países, reunidas pelo Centro de Liderança Global de Mulheres (CWGL), lançaram a Campanha dos 16 dias de ativismo pelo fim da violência contra a mulher, com o objetivo de promover o debate e enunciar as várias formas de violência contra as mulheres no mundo. As participantes escolheram um período de significativas datas históricas, marcos de luta das mulheres, iniciando a abertura da Campanha no dia 25 de novembro - Dia Internacional de Não Violência Contra as Mulheres - e finalizando no dia 10 de dezembro - Dia Internacional dos Direitos Humanos.
Desse modo, a campanha vincula a denúncia e a luta pela não violência contra as mulheres à defesa dos Direitos Humanos. O Movimento de mulheres brasileiras abraçou a campanha dando a ela também outras dimensões. O Brasil antecipou a campanha para o dia 20 de novembro – Dia da Consciência Negra, razão pela qual na realidade não são 16 dias, mas sim 20 dias de ativismo, eis que a campanha se encerra no dia 10 de dezembro. Para marcar a importância do tema e mobilizar ações e a atenção da sociedade, a campanha relaciona as principais datas alistadas à violência cometida contra as mulheres, numa forma de sensibilizar a sociedade e evitar a cultura da revitimização da violência de gênero.
Lembrar para jamais esquecer deve ser um lema constante em nossa luta. Durante a campanha algumas datas ganham importância no Brasil são elas: 20 de Novembro Dia da Consciência Negra na qual reverenciamos todas as mulheres negras marginalizadas pelo racismo, vitimas do preconceito.
O Brasil é considerado o maior exportador de mulheres para fins de exploração sexual e comercial na América Latina. São meninas e jovens entre 15 e 27 anos, em sua maioria negra; 25 de novembro - Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher – Lembramos a violência sofrida pelas irmãs Mirabal (assassinadas pela ditadura de Trujillo na republica dominicana, “lãs mariposas” como eram chamadas lutaram pelo fim da ditadura, da violência e pela democracia seu assassinato causou comoção social e foi o estopim para o povo dominicano se unir contra o ditador); 06 de Dezembro – Dia do Massacre de Montreal – Em memória das 14 estudantes de engenharia que foram assassinadas em sala de aula, por um homem de 25 anos que deixou um bilhete no qual dizia: “as mulheres são responsáveis pelos fracassos dos homens; toda mulher que cruza o caminho de um homem bem-sucedido deve ser castigada; e as mulheres bem-sucedidas não aceitam ser protegidas por um homem”.
As 14 mulheres assassinadas tornaram-se um símbolo, uma representação trágica da injustiça praticada por homens violentos contra as mulheres; 10 de dezembro, a data celebra a adoção, em 1948, pela Organização das Nações Unidas (ONU), da Declaração Universal dos Direitos Humanos, uma resposta à barbárie cometida pela atrocidade do nazismo e a guerra em si que matou milhares de inocentes, desse modo à campanha vincula a denúncia e a luta pela não violência contra as mulheres à defesa dos Direitos Humanos.
Nesses 20 dias de ativismo, nos mulheres convocamos a sociedade brasileira para repensar o problema da violência de gênero de forma a romper com os papeis culturais hoje existentes e, leia-se para o bem de todos, em especial da mulher fragilizada e vítima de violência daí a importância de um novo olhar sobre essa violência doméstica e a análise e aplicação correta da Lei Maria da Penha como algo absolutamente necessário para que o Estado ofereça às mulheres mínimas condições de proteção e garantias de seus direitos. Não bastarão leis para proteger as mulheres se as suas vozes não forem ouvidas e se houver omissão do Estado. Não podemos olvidar que todas às vezes em que uma de nós é atingida, todas as mulheres do mundo são.
Uma Vida Sem Violência É Um Direito Das Mulheres. Comprometa-se! Tome uma Atitude! Exija seus Direitos.
Emanuela Barros é advogada e presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Sorocaba
Deixe seu Recado