Imprensa
Com gritos e ameaças, Promotor intimidou jornalistas a fazerem matéria contra greve
O caso espantou jornalistas da redação. A primeira denúncia do abuso pelo membro do Ministério Público foi feita pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo, que se disse “perplexo”. O promotor, que é membro do conselho consultivo da redação – órgão sem poder de decisão e voltado apenas para consultoria – ingressou sem ser convidado na companhia de um conselheiro deliberativo, este sim com poder de decisão, mas que não deliberou qualquer ingerência por parte de um membro isolado.
O Justificando contatou um profissional com vários anos de trabalho na redação regional, e que, sob a condição de anonimato, contou como foi a atípica tarde daquela sexta. Segundo ele, Farto Neto e o outro conselheiro entraram e reuniram todos na sala de reunião, onde fizeram um duro discurso contra a greve e impuseram um ponto de vista para a cobertura do veículo.
O promotor era o mais ativo com constantes intimidações como tapas na mesa, além de indiretas que sugeriam que quem resistisse iria perder o emprego. O jornalista afirmou que Farto Neto disse por diversas vezes, com direito a gritos e em tom de ameaça velada, que quem fosse “esperto”, iria “obedecer”. O promotor destacou sua desaprovação por várias vezes à linha editorial da publicação, crítica à reforma trabalhista e da previdência.
A cobertura do jornal, a qual era então factual sobre os reflexos do protesto em Sorocaba e região, passou a ser ativamente contra a greve. Fotos da paralisação não foram publicadas e, em contrapartida, imagens de comércio fechado, como forma de dizer que os protestos atrapalharam a vida do leitor e da leitora, foram publicadas com insistência.
Matérias já publicadas foram editadas e outras foram feitas (a exemplo da manchete publicada no jornal impresso do dia 29 sob o título “paralisação prejudica o trabalhador sorocabano”) para prevalecer o ponto de vista do membro do Ministério Público, que ficou lá por cerca de 4 horas em uma espécie de comitê para vigiar o trabalho dos profissionais da imprensa. Em protesto, tanto os jornalistas, como o chefe de reportagem e o diretor de redação, retiraram seus nomes do expediente do site e do jornal impresso pelos três dias seguintes. O diretor determinou que seu nome fosse retirado por telefone, uma vez que estava se recuperando em casa de uma cirurgia no coração.
Farto Neto ainda impôs que o jornal “convidasse” para entrevista naquele mesmo dia o comandante do Comando de Policiamento do Interior (CPI/7), coronel Antônio Valdir Gonçalves e o secretário de Segurança e Defesa Civil da prefeitura de Sorocaba, José Augusto de Barros Pupin, para entrevistas sobre os prejuízos e transtornos da paralisação. Ao final da cobertura, o promotor deixou a redação com o conselheiro deliberativo e os convidados para entrevista.
Os jornalistas do Cruzeiro do Sul ficaram furiosos com a interferência de Farto Neto, que se aproveitou da ausência do diretor de redação e do presidente da Fundação, que se encontrava em viagem fora do país, para tomar a ingerência editorial da publicação. Profissionais exigiram uma reunião com a FUA, que igualmente se mostrou surpresa com a atitude individual do promotor de justiça e do outro conselheiro e assegurou que a interferência não deveria ter acontecido e que não se repetirá. Entretanto, publicamente, a FUA ainda não se posicionou sobre o fato que tem ganhado cada vez mais cobertura da mídia.
Procurado pelo Justificando na última semana para um posicionamento tanto institucional, quanto pessoal do promotor de justiça, o Ministério Público do Estado de São Paulo não retornou.
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