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Desafiando estatísticas: mulheres desempenham funções variadas em metalúrgicas
Apesar mais da metade das profissões metalúrgicas não possuírem funcionárias mulheres, trabalhadoras desafiam os dados, ocupam funções variadas e falam sobre seu cotidiano em entrevista
Entre suas responsabilidades de trabalho estão carregar e descarregar, preparar caixas de materiais, transportar peças nos racks para abastecer as linhas de produção da Kanjiko do Brasil e também auxiliar na organização do local de trabalho. Funções que demandam tanto a força física, quanto conhecimento dos processos e especialização.
Assim como Edina, outras também desafiam a máxima de que há "trabalho de homem" e "trabalho de mulher". A metalúrgica Camila Cristina (primeira na foto de destaque da matéria), 36, munida de protetor auricular, capacete, mangote, avental e luvas, realiza soldagem de parafusos e porcas, na produção desta mesma fábrica. Ela é uma das poucas mulheres dentro do processo de solda.
“Entrar em um setor onde trabalham 99% de homens é um desafio. Temos que mostrar diariamente que somos capazes de exercer a mesma função, que estamos aptas para qualquer trabalho com muita garra e força de vontade para conseguirmos nosso espaço”, comenta Camila.
Dados
A quantidade de metalúrgicas também mudou desde a última vez que Edina falou à Imprensa SMetal. Hoje são 8 mil mulheres, em um montante total de 42 mil trabalhadores, o que representa uma fatia de 19,29% da categoria na base do SMetal. A reportagem da Folha Metalúrgica desta semana destacou outro importante dado: são 707 ocupações na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO), feita pelo Ministério do Trabalho. Em 356 postos não há mulheres contratadas.
Desafiando as estatísticas
“Para mim foi tranquilo. Acho que a mulher é capaz de fazer os mesmos serviços, apesar de ter uma limitação física para determinadas coisas, somos capazes de manusear pontes rolantes [mecanismo dentro da produção], conduzir um carrinho e outros processos. É preciso ter muita atenção e cuidado”, explica sobre seu trabalho.
A metalúrgica tem no currículo o curso de operadora de ponte rolante, metrologia, interpretação de desenho e operadora de empilhadeira. Na sua visão, ter qualificação pode ser o diferencial na hora da contratação. “Sempre falo para minhas amigas irem atrás desses cursos porque a maioria das empresas solicita. Estou sempre incentivando”, relata.
Muitas vezes mesmo as mulheres com formação ficam de fora do mercado de trabalho. É o caso da motorista de veículos industriais, Camila Abieiro Silva, que dirigia caminhões em empresa metalúrgica. No cotidiano da fábrica, a maioria das rotas eram destinadas para as mulheres, segundo ela. “Além de ser rápido, tinha que tomar cuidado porque as peças poderiam cair fácil”, recorda. Outra questão que pontua é que o índice de queda de material era menor com as mulheres na condução dos veículos.
No final de 2022, foi desligada de sua função e começou um curso de transporte coletivo, escolar e de emergência. O objetivo futuro é ser motorista de ônibus na cidade, mas a oportunidade ainda não chegou. É importante salientar que ela tem sete anos de experiência na direção de caminhões, além de qualificação.
Abrir as portas
Quando há vagas e candidaturas qualificadas, o que falta é abrir as portas. Suelen Araújo, 37, é coordenadora de gente e gestão da Ibrafer, empresa que trabalha com a fabricação de AMV’s para linhas férreas, agulha/jacaré e contra-trilhos, além de outros acessórios neste ramo. O trabalho pode ser complexo e, até oito meses atrás, nenhuma mulher atuava na produção. Foi com a atuação das lideranças que este cenário mudou.
Suelen diz que apenas observar a produção e caracteriza-la como pesada, sem pensar em soluções, seria o caminho mais fácil a se tomar. "Eu poderia entrar aqui um dia, olhar para a fábrica e pensar que é pesado, não tem como e pronto. Não! A gente decidiu olhar com outro olhar. É pesado, mas será que aqui não poderíamos ter uma mulher? O olhar tem que ser esse. As pessoas sempre acreditaram que não dava e agora provamos que tem como", diz.
O resultado dessa visão é positivo. Uma mulher recolocada no mercado de trabalho e exercendo suas funções com facilidade. "Fui muito acolhida quando cheguei na empresa e não tive grandes dificuldades para entender o processo. Acredito que é possível colocar as mulheres na produção. Somos capazes", afirma a metalúrgica Eliane dos Santos, contratada na Ibrafer.
"A ideia, daqui para frente, é quanto mais a gente conseguir automatizar nossos processos, mais mulheres estejam na empresa. Dentro do que pode ser incorporada a participação das meninas, faremos o possível para que elas tenham igualdade na hora de estar nos processos. Pelo menos isso: uma oportunidade de estar e ser considerada para os cargos”, pondera Suelen.
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